Menu

Petróleo e Gás

Petrobras: indicação de Mercadante gera receio

No BNDES, porém, petista tem feito gestão sóbria

Substituição de Prates por Mercadante na Petrobras emite sinal ruim ao mercado (foto: Adobe Stock)

Cotado para assumir o comando executivo da Petrobras ou a presidência do conselho de administração da estatal, o atual presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, é visto por analistas e agentes de mercado como figura essencialmente política e de inclinação intervencionista. No banco de desenvolvimento, porém, Mercadante tem feito gestão sóbria e respaldada pelo corpo de funcionários de carreira.

Objetivamente, o mercado financeiro receia que Mercadante instrumentalize a Petrobras para induzir demanda na economia, por exemplo, a partir da ampliação massiva de investimentos em embarcações construídas no Brasil e refinarias sem retorno adequado para a companhia.

O analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, diz que o atual presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, faz uma gestão reconhecida como “satisfatória” pelo mercado e que eventual substituição por Aloizio Mercadante emite sinal ruim ao investidor, independente do trabalho realizado recentemente no BNDES.

“Mercadante não é bom nome para uma empresa de petróleo. Prates tem um histórico no setor e vem tendo gestão satisfatória, tentando conciliar ao máximo os interesses da empresa e do governo. Isso ficou claro quando ele desenhou a política de preços que saiu da paridade de importação (PPI), mas foi bem aceita pelo mercado. O mesmo aconteceu quando ele aprovou uma política de dividendos mais fraca que a anterior e um plano estratégico maior, mas que também foram bem aceitos pelo investidor”, diz Arbetman.

“Por mais que Prates tenha dificuldades, é uma gestão satisfatória, e não me parece boa ideia trocá-lo por um nome com peso político muito grande”, continua o analista.

Retrospecto no BNDES

Em seu primeiro ano de gestão no BNDES, Mercadante enfrentou o ceticismo do mercado financeiro e correspondeu ao objetivo do governo de aumentar o volume de crédito ofertado pelo banco, que havia encolhido no governo de Jair Bolsonaro.

O BNDES teve atuação importante em meio à retração do mercado de crédito que marcou o pós-crise das varejistas, desencadeado pelo caso Americanas. Segundo alto funcionário de carreira do banco, que não quis se identificar, a administração Mercadante é bem vista internamente e a operação do banco “tem fluído bem, sem anomalias”.

Presidente do BNDES no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, Luiz Carlos Mendonça de Barros avalia que Mercadante faz bom trabalho, sem confrontar a “burocracia” do banco e respeitando mecanismos de controle. Ele destaca que o mandatário entendeu a importância de aumentar o crédito do banco ao agronegócio, historicamente limitado. Uma das inovações nesse sentido foi a criação de uma linha em dólar para o setor.

E adverte: “Ele (Mercadante) que pense bem antes de fazer essa mudança, porque Petrobras é algo completamente diferente. O banco é uma instituição mais protegida, que não tem nenhuma atividade de maior inserção política e existe para responder às provocações do governo, aos projetos do Executivo. Na Petrobras não é bem assim que funciona”, diz Mendonça de Barros. “Se o Lula pedir, ele vai ter que ir, não vai ter jeito. Mas sairia de lugar confortável para entrar numa briga”, continua.

Para o ex-presidente do BNDES, Mercadante tem marcado um retorno do banco à normalidade. “O Paulo Guedes queria ver o BNDES morto. O banco passou por um período de “super irritação” com a Dilma e, depois, mergulhou em governos que eram contrários a sua função. No governo Bolsonaro, havia um consenso de que o banco não fazia diferença na economia. Mas há empresas que só existem hoje graças ao BNDES. Sem as garantias de performance que o BNDES deu aos aviões da Embraer, essa empresa não existiria, para citar só uma”, afirma.

Números

Segundo o BNDES, as aprovações de operações de crédito, que representam a formação de uma carteira de projetos de investimento para transformar o País, atingiram R$ 175 bilhões neste primeiro ano, o maior valor desde 2015. Já os desembolsos de recursos foram de R$ 114 bilhões, um incremento de 17% em relação a 2022.

Houve aumento no financiamento à indústria (R$ 40 bilhões); inovação, com mais R$ 5 bilhões e exportações, com aprovações acima de R$ 13 bilhões. Operações com Estados e municípios foram retomadas, com mais de R$ 20 bilhões em crédito para entes subnacionais, e fundos como o Amazônia e Clima foram reativados e reforçados, para suportar o Plano de Transformação Ecológica do Ministério da Fazenda.

Durante a divulgação do último resultado financeiro, relativo ao quarto trimestre, o diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos do BNDES, Nelson Barbosa, disse que trabalha com uma expectativa de desembolsos entre R$ 125 bilhões e R$ 160 bilhões ao longo de 2024, o que ficaria entre 1,1% e 1,4% do PIB do País. Em 2023, os desembolsos do BNDES alcançaram 1,1% do PIB, ante 1% em 2022. A ideia, portanto, é promover aumento gradual na participação do banco no mercado de crédito, sem aventuras que poderiam comprometer a credibilidade da gestão.

Alvos de questionamento, as operações subsidiadas em 2023 não teriam passado da faixa de 18% dos desembolsos, sendo o restante, 82%, realizadas a taxas de mercado, conforme disse Barbosa na ocasião. A fonte do banco ouvida afirma que esse porcentual aponta para bom nível de controle nessa frente.

No fim de janeiro, o mercado reagiu mal ao enxergar um “voo ao passado” quando o BNDES anunciou a gestão de R$ 250 bilhões em recursos voltados ao financiamento da indústria, no âmbito do programa Nova Indústria Brasil (NIB). A leitura foi de novo risco de inchaço à operação e volta de subsídios excessivos, na contramão das políticas de saneamento fiscal da Fazenda. Sobre isso, Barbosa já disse que, aí, 64% dos recursos serão financiados a taxas de mercado e que taxas direcionadas ficarão restritas ao Fundo Clima e iniciativas voltadas à inovação.

Encontrou algum erro? Entre em contato

Compartilhe:

Veja mais notícias de Empresas