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Setor financeiro

Daycoval mostra, em estudo, que o comportamento do trabalhador mudou e reduziu o efeito do desemprego baixo na economia

Alteração induzida por fatores comportamentais, como a saída por saúde e incapacidade, explica por que inflação de serviços e atividade não aceleram tanto apesar do desemprego baixo, aponta a pesquisa

Estudo foi elaborado pelo Departamento de Economia do banco Daycoval (Foto: Divulgação)

A taxa de desemprego no País, que voltou a renovar o menor nível da série histórica, seria quase 2 pontos porcentuais maior se não fosse uma mudança estrutural pelo lado da oferta de trabalho. Essa alteração, induzida por fatores comportamentais, como a saída de trabalhadores por saúde e incapacidade, explica por que inflação de serviços e atividade não aceleram tanto apesar do desemprego baixo. A conclusão é de um estudo do Departamento de Economia do banco Daycoval, antecipado ao Estadão/Broadcast.

Em 2013, quando a taxa de desemprego atingiu o que, à época, era uma mínima histórica (6,2%, com ajuste sazonal), a inflação de serviços e seu núcleo rodavam perto de 9%. Nos anos seguintes, o desemprego aumentou, passou dos dois dígitos, mas voltou a cair recentemente, atingindo 5,7% no terceiro trimestre de 2025, também em dado com ajuste sazonal.

A inflação de serviços, porém, está menor do que em 2013 – rodando em aproximadamente 6%. Além disso, sob um nível de desemprego tão baixo, as variações recentes sugeririam crescimento próximo a 4% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, acima dos cerca de 2,2% projetados na pesquisa Focus.

Para entender essas divergências, os economistas partiram de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada trimestralmente, analisaram o período de 2019 e 2025, quando a taxa caiu de 11,6% para 5,7%, e replicaram metodologia do Federal Reserve de Atlanta que decompõe participação da população no mercado de trabalho em dois componentes: demográfico (composição etária) e comportamental (decisões de participar do mercado).

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Da queda desde 2019, 4,3 pontos porcentuais decorrem do fluxo entre ocupação e desocupação, numa dinâmica cíclica, enquanto 1,6 ponto porcentual vem da variação da participação, com predominância do fator comportamental. O bônus demográfico exerce efeito para cima no desemprego, com a mudança na composição etária acrescentando 0,2 ponto porcentual até o terceiro trimestre de 2025. “No entanto, o componente comportamental atua no sentido oposto: desde 2019, a queda do desemprego incorpora um efeito de participação de -1,8 ponto porcentual, refletindo a decisão de ofertar menos trabalho”, afirmam.

É esse 1,8 ponto porcentual do fator comportamental que, somado aos 5,7% de desemprego na mínima, levam a taxa a 7,6% – nível mais alto e que “conversaria melhor” com a inflação de serviços e a atividade atuais, além de estar “mais alinhada” a relações macroeconômicas históricas (taxa natural de desemprego entre 8%-10%).

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Três justificativas respondem pela maior parte do movimento: saúde/incapacidade (-1,2 ponto porcentual), responsabilidades familiares (-0,8 ponto porcentual) e estudo (-0,7 ponto porcentual). Em conjunto, essas três frentes explicam -2,7 pontos porcentuais do desemprego ao longo do período, indicando reconfiguração persistente das decisões de participação. Já o motivo “quer trabalhar, mas não procura” elevou o desemprego em 1,3 ponto porcentual.

E mudanças nas transferências de renda e outros benefícios sociais, incluindo ajustes no Benefício de Prestação Continuada (BPC, +48% em termos reais de 2019 a 2025), e expansão do Bolsa Família (crescimento real de 275%) influenciam o comportamento no mercado de trabalho durante a saída de trabalhadores da força. Simultaneidade não implica causalidade, “mas sugere uma correlação: a maior cobertura e/ou benefício líquido ocorre simultaneamente à intensificação das ausências do mercado de trabalho por falta de saúde/incapacidade, para cuidar de familiares ou para estudar, principalmente”, ponderam.

Na sexta-feira, 28, a taxa de desemprego no País inaugurou novo piso histórico, descendo a 5,4% no trimestre encerrado em outubro, de acordo com dados da Pnad Contínua. Com ajuste sazonal, nos cálculos do Daycoval, ela ficou estável pelo terceiro mês seguido em 5,7%.

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