A Motiva (ex-CCR) reportou lucro líquido ajustado de R$ 683 milhões no terceiro trimestre de 2025, alta de 22% ante igual intervalo de 2024. No critério não ajustado, o lucro líquido societário quase triplicou, saltando de R$ 422 milhões para R$ 1,231 bilhão.
A diferença entre as duas cifras reflete, principalmente, o efeito não recorrente do aditivo do contrato da ViaQuatro, anunciado em setembro. A medida formalizou a expansão da Linha 4 – Amarela até o município de Taboão da Serra (SP) e estendeu o prazo de concessão por mais 20 anos.
O Ebitda (Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) ajustado consolidado da companhia, por sua vez, cresceu 16,3% no terceiro trimestre ante um ano, somando R$ 2,545 bilhões. A margem Ebitda ajustada consolidada ficou em 64,4%, avanço 6,5 pontos porcentuais, apoiada pelo controle de custos e aumento de receita com novos projetos, segundo o CEO da Motiva, Miguel Setas.
Já a receita líquida ajustada alcançou R$ 3,96 bilhões, alta de 16,3%. Tanto a receita quanto o Ebitda ajustado configuram os maiores valores já registrados pela Motiva em para um trimestre.
“Esse foi um trimestre consistente com nossa estratégia de crescimento rentável, seletivo e sinérgico, aliado a uma eficiência superior, portfólio otimizado e estrutura de capital aprimorada”, afirmou o executivo em entrevista ao Estadão/Broadcast.
Como exemplo de simplificação do portfólio, Setas cita o fim das operações da CCR Barcas e como otimização, a repactuação da MSVia (BR-163/MS), renomeada Motiva Pantanal. Antes das mudanças, os dois ativos geravam um impacto negativo anual de cerca de R$ 400 milhões a R$ 450 milhões para a companhia.
Enquanto isso, o novo contrato da Motiva Pantanal, como a Rota Sorocabana (SP) e PR Vias, arrematadas nos últimos 12 meses, já vêm gerando resultados positivos para o balanço da empresa. A expectativa é que os ganhos acelerem ao longo do tempo. “Daqui a um ano, devemos estar num patamar mais estabilizado. Mas, em geral, uma concessão leva três anos para atingir seu ritmo pleno de geração de valor”, explica Setas.
Oferta de bonds
A Motiva lançou uma oferta de bonds por meio de sua controlada indireta e em conjunto a Quiport no valor de US$ 500 milhões. A Quiport Holdings detém 46,5% do capital social da Quiport. Após a emissão, os bonds constituirão obrigações sênior, ou seja, títulos de dívida com prioridade de pagamento em relação a outras obrigações financeiras da Quiport, conforme previsto nos termos da emissão.
Ainda segundo a Motiva, os recursos obtidos com a emissão serão usados para o refinanciamento de dívidas existentes, aporte em contas de reserva da Quiport, pagamento de custos e despesas relacionadas à transação e fins corporativos gerais. A companhia acrescenta que os bonds não serão registrados perante a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e não poderão ser ofertados ou vendidos no Brasil.
Eficiência de custos
Do ponto de vista operacional, o CEO da Motiva ressalta ainda a gestão mais eficiente no controle de custos. A companhia encerrou setembro com a relação Opex (Caixa)/Receita Líquida Ajustada em 38,3%, considerando os últimos doze meses. Se for considerado apenas o terceiro trimestre de 2025, o indicador foi de 34,8%.
Com o resultado, a companhia se aproxima do cumprimento, com um ano de antecedência, da meta de 38%, prevista para 2026. Após a atualização da Ambição 2035, a estratégia da Motiva para a próxima década, o novo compromisso é de apurar um ratio inferior a 28% em 2035, ante os pelo menos 35% definidos anteriormente.
Leilão de repactuação da Renovias
Setas avalia como “quase certa” a participação da companhia no leilão de repactuação da Renovias, previsto para o início de 2026. O executivo destacou que a empresa detém 40% da concessionária de rodovias estaduais de São Paulo, considerada estratégica.
Setas não detalhou a participação em outras disputas nos próximos meses, enquanto a agenda de leilões segue aquecida. No entanto, reforçou, durante teleconferência de resultados, que o foco da companhia é em ativos premium em regiões que a Motiva já atua.
“Nosso footprint atual já indica quais são as concessões e áreas que podem ser de interesse da empresa”, afirmou, destacando que a Motiva atualmente possui ativos em São Paulo, com presença mais pontuais na região Sul, Mato Grosso e Rio de Janeiro, por exemplo.
Sobre a competição no segmento rodoviário, Setas avalia que o cenário segue moderado, o que garante a preservação da rentabilidade nos projetos. “A competição tem se acomodado de acordo com o perfil dos projetos”, disse. “Há oportunidades para todo mundo no setor”, acrescentou.
Aeroportos
Setas, reforçou a expectativa de que a venda dos aeroportos da companhia seja concluída ainda em 2025. A empresa está se movimentando para vender os 20 aeroportos regionais que opera hoje, sendo 17 no Brasil e três em outros países da América Latina. O negócio é avaliado entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões.
O prazo já havia sido anunciado pelo executivo em outras ocasiões, inclusive por meio de fato relevante. O desejo da companhia é que a operação seja realizada em um bloco único.
Para Setas, a finalização da venda dos aeroportos abre espaço para a companhia se concentrar na formação de um consórcio internacional para administrar o segmento de mobilidade urbana. “Esperamos que esse processo ocorre entre 2026 e 2027”, afirmou.
O CEO da Motiva disse ainda que a empresa estuda a reciclagem de ativos pontuais em meio à estratégia de otimização de portfólio. No entanto, não forneceu maiores detalhes sobre quais operações poderiam ser vendidas.
Em relação às perspectivas para o próximo ano, Setas afirmou que não vê uma “alteração substancial do cenário macroeconômico para 2026”. Mas ponderou que a companhia trabalha com diversos cenários para não ser pega de surpresa.
Aditivo contratual da Autoban
A Motiva está debatendo o aditivo contratual da Autoban, concessionária da Rodovia Bandeirantes-Anhanguera, em São Paulo, segundo o CEO da companhia, Miguel Setas. A expectativa é que o acordo seja parecido com a ViaQuatro do Metrô de São Paulo, anunciada no final de setembro.
“Também estamos avaliando um aditivo do Metrô da Bahia”, afirmou Setas.
A expectativa do executivo é de que haja uma evolução dos novos aditivos contratuais em um período de 12 a 18 meses.
Os aditivos contratuais fazem parte da agenda de otimização e simplificação do portfólio da Motiva, que vem ganhando força nos últimos meses. As iniciativas incluem, além do aditivo da ViaQuatro, o fim das operações da CCR Barcas e a repactuação da MSVia (BR-163/MS), renomeada Motiva Pantanal.
Melhora no tráfego
Após um crescimento mais modesto no terceiro trimestre, a Motiva tem observado uma “leve melhora” em outubro na comparação com setembro. A avaliação foi apresentada pela diretora de relações com investidores da companhia, Flavia Godoy, durante teleconferência de resultados.
A plataforma de rodovias da Motiva, excluindo as novas concessões PRVias e Sorocabana e a encerrada ViaOeste, registrou alta de 1,1% na demanda no terceiro trimestre de 2025 ante igual intervalo de 2024. O resultado foi impactado positivamente pelas concessões no Estado de São Paulo, pela RioSP e pela Motiva Pantanal, favorecidas pelo maior escoamento de grãos via Porto de Santos.
Setas avaliou que o desempenho foi “positivo”, mas com nuances de acordo com cada rodovia. “A Rio-São Paulo teve demanda comprimida pelas obras na região metropolitana, mas já concluímos essas intervenções e estamos recuperando participação de mercado”, disse.
Já nas rodovias relacionadas ao agronegócio, como a Motiva Pantanal e a PRVias, o escoamento da safra foi mais lento devido às condições de preço no mercado internacional, apesar da safra 20% maior que a do ano passado, ainda segundo o executivo.
Disponibilidade de mão de obra
A Motiva não tem observado, até o momento, gargalos críticos de mão de obra nas atividades principais da companhia, segundo o CEO. Apesar de nuances, o executivo não considera que a capacidade construtiva da companhia esteja afetada.
“Alguns segmentos têm, efetivamente, alguma restrição, principalmente na área de projetistas, mas a nossa execução de capex não tem nenhum gargalo de capacidade construtiva que inviabilize nossos compromissos”, afirmou Setas.
O CEO destacou ainda as nuances geográficas. Mais de 50% dos investimentos da Motiva estão concentrados no Estado de São Paulo, que possui boa oferta de capacidade. Em outras regiões, com menor disponibilidade, a empresa tem adotado estratégias específicas, enquanto observa o tema de perto.
Conforme mostrou o Estadão/Broadcast, a escassez de mão de obra especializada tem se mostrado um desafio diante da “onda” de novas concessões rodoviárias no Brasil, com o maior número de leilões em 17 anos. O avanço acelerado de projetos, somado à redução no ritmo de formação de profissionais, tem levado concessionárias a adotar diferentes estratégias para driblar esse problema. /Com Danielle Fonseca
 
                 
                             
                            