PETROLINA – A Motiva (ex-CCR) está lançando uma comercializadora própria de eletricidade. Com aporte de R$ 46 milhões, a estrutura lidará com o portfólio da própria companhia, que está entre as 50 maiores consumidoras de energia elétrica do País, mas buscará também atrair fornecedores clientes eletrointensivos aproveitando sinergias comerciais.
A nova estrutura, que deve entrar em operação durante o primeiro trimestre de 2026 após a aprovação dos órgãos reguladores, terá pessoal próprio e acompanha movimento iniciado pelo grupo em 2024, quando criou uma gerência executiva de energia, centralizando a gestão do insumo, que está entre os três principais custos da companhia.
O gerente executivo de Energia da Motiva, Diego Martins, afirma que a empresa tem uma meta agressiva de redução de gastos com energia, de 20%, anunciada em 2023 para ser entregue ao fim de 2026. “A gente está caminhando muito bem nessa meta e já chegou em 17% de redução do custo unitário, ou seja, por kilowatt-hora (kWh)”, disse ao Estadão/Broadcast.
A iniciativa está ainda alinhada ainda com as metas de sustentabilidade da companhia como a que, também em 2023, colocou como objetivo que seus ativos fossem 100% abastecidos por fontes renováveis, objetivo já alcançado em 2024. Diante do crescimento de demanda, porém, com a inclusão de novas concessões como as de rodovias no portfólio, a frente de energia se mantém atenta a esta necessidade.
Portfólio próprio e estratégia
Neste contexto, a empresa está atuando por meio de um arranjo de autoprodução, que responde por 65% de sua demanda energética total, e foi feito em parceria com a Neoenergia por meio de três parques do Complexo Eólico Oitis, no sertão do Piauí. Os três empreendimentos têm cerca de 125 megawatts (MW) e fazem frente à demanda de energia das operações das linhas 4, 5 e 17, de metrô, e linhas 8 e 9, de trens.
Na frente de geração distribuída (GD), a companhia firmou um contrato de 10 anos com a EDP para atender o Sistema Anhanguera-Bandeirantes, no estado de São Paulo. O acordo prevê o fornecimento de 1.460 MWh por ano para 58 unidades consumidoras atendidas em baixa tensão como praças de pedágio e pontos de apoio aos usuários. A Motiva também opera 18 usinas próprias de GD em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
O restante do consumo elétrico vem sendo negociado no mercado livre, que agora será encabeçado pela comercializadora própria. Está prevista ainda a comercialização de Certificados Internacionais de Energia Renovável (I-RECs, na sigla em inglês), de créditos de carbono e serviços de eficiência energética.
Na frente dos fornecedores – que somam mais de dois mil considerando todas as áreas de atuação do grupo, que passa por rodovias, trilhos e aeroportos – a ideia é aproveitar os negócios que já são feitos e a demanda desses parceiros por redução no preço da energia e descarbonização.
“Ele me presta um serviço ou me vende um insumo e eu faço a contrapartida do pagamento. Neste contexto, eu consigo, numa negociação de energia, eventualmente isentar de uma garantia financeira e ser mais eficiente na minha contratação”, explicou Martins, que citou como potenciais clientes usinas de asfalto, empresas de britagem, entre outros.
O gerente de Energia afirmou ainda que a marca da empresa, que é listada em bolsa e tem boa avaliação de crédito, ajuda a melhorar as condições comerciais oferecidas. “Eu capturo essa eficiência, compartilho com as minhas unidades e também repasso esse benefício para o meu fornecedor”, continuou.
A ideia da companhia é trabalhar com contratos de médio e longo prazo. “O meu foco será um contrato de três, quatro, cinco anos tanto para as minhas cargas quanto para as dos parceiros. E, no mês a mês, conforme as variações de consumo vão acontecendo, a gente vai fechando essas pontas”, explicou.
Ele afirma também que olha movimentações de abertura do mercado de energia, que possibilita que o consumidor escolha seu fornecedor e negocie termos do contrato, “com muito otimismo e entendendo que, no futuro, podem trazer boas oportunidades”, mas diz que não é o foco inicial do projeto. “Não é muito o nosso mercado nesse momento. A gente deve trabalhar no mercado de atacado, até de atacarejo, que é o que já está aberto”, completou.
Cortes de geração
Questionado sobre a entrada no segmento de comercialização em meio à crise dos cortes de geração renovável por razões sistêmicas, conhecidos no setor pelo jargão curtailment, ele afirma que a ideia da empresa não é fazer investimentos em geração e buscar a energia a ser negociada no mercado junto a geradores “que estão sofrendo menos com a questão”, disse.
O próprio complexo no qual a Motiva está como parceira também tem sido afetada pelos cortes. Segundo o gerente, porém, o contrato foi desenhado de modo que a companhia em si não seja afetada por eventuais restrições.
A repórter viajou a convite da Motiva.