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Setor financeiro

Neon apara prejuízo e projeta amadurecimento, mas lucro consistente segue como desafio

No percurso até as metas que busca, a fintech abriu 2,4 milhões de novas contas no 1º semestre, 23% a mais do que no mesmo período de 2024

Fundada em 2016, a Neon cresceu na mesma onda que popularizou bancos digitais como Nubank, Inter e PagBank (Foto: Neon/Divulgação)

A caminho de completar uma década em atividade, a fintech Neon se vê em fase de amadurecimento. Com uma base de mais de 32 milhões de clientes, a instituição financeira conseguiu aparar as perdas na metade inicial deste ano e chegou a apresentar lucro no primeiro trimestre, diante da contínua expansão do crédito. Mas a concorrência em um mercado disputado e o cenário de juros elevados ainda representam obstáculos ao objetivo de consolidar um negócio consistentemente lucrativo.

No primeiro semestre, a fintech registrou prejuízo de R$ 35 milhões, uma melhora em relação ao saldo negativo de R$ 265 milhões verificado em igual período de 2024. No final do ano passado, a Neon havia atingido o breakeaven – ponto em que as receitas de uma empresa finalmente se igualam aos custos. O ímpeto se estendeu para o primeiro trimestre de 2025, quando houve lucro líquido de R$ 9,3 milhões. Nos três meses seguintes, porém, a linha voltou a ficar negativa.

“Não houve nada pontual”, diz o diretor de Tecnologia (CTO) e vice-presidente de produtos da Neon, Wilton Pinheiro, em entrevista ao Estadão/Broadcast. “É simplesmente uma dinâmica de carteira, inclusive com um prejuízo menor do que esperávamos”, explica.

O objetivo ainda é o de obter uma trajetória de ganhos sustentáveis, guardadas as devidas sazonalidades, de acordo com Pinheiro. “Não estamos fazendo guidance, mas, se você imagina que a curva é positiva, então a tendência é de em 2026 termos um número muito melhor, recorrentemente positivo”, pontua.

Novas contas

No percurso até essa meta, a fintech abriu 2,4 milhões de novas contas no primeiro semestre, 23% a mais que no mesmo intervalo do ano anterior. Em junho, as contas ativas saltaram 13% na comparação com igual mês de 2024, para um número não divulgado. O desafio central agora é ampliar a principalidade, ou seja, o volume de clientes que tenham a Neon como principal banco. “Queremos que as pessoas que venham para cá queiram realmente usar os serviços da Neon e que possamos ajudá-las no dia a dia”, diz Pinheiro.

Funding

A Neon também segue trabalhando pela independência de funding. Em julho, a empresa concluiu uma rodada de investimentos Série E, que captou cerca de R$ 720 milhões. O quadro de acionistas passou ter dois novos investidores: a International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial para o setor privado, e a Deutsche Investitions- und Entwicklungsgesellschaft (DEG), subsidiária do Grupo KfW, principal banco de desenvolvimento da Alemanha.

Fundada em 2016, a Neon cresceu na mesma onda que popularizou bancos digitais como Nubank, Inter e PagBank. Tornou-se um unicórnio – startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão – em 2022, após investimento do BBVA. A fintech se posiciona mais fortemente entre o público das classes B e C e, para consolidar o processo, a fintech está apostando em um reposicionamento de marca com a assinatura “Pra Você Viver no Azul”. “É um posicionamento que traz essa ideia de que nós amadurecemos. É uma empresa que tem nove anos, que cresceu com os clientes e tem muito mais gente que pode trabalhar com a gente”, conclui Pinheiro.

Carteira de crédito ampliada e avanço com cautela no consignado

A fintech Neon informou também ter registrado expansão na carteira de crédito no primeiro semestre, ainda com o cartão de crédito como principal produto, mas com crescente peso do consignado privado. A modalidade ganhou força no setor bancário este ano com a edição da lei que estabelece novas regras para concessão ao trabalhador de empresas privadas.

Na primeira metade do ano, a carteira de crédito da Neon avançou 19% ante igual período de 2024, a R$ 7 bilhões. O cartão de crédito representou R$ 5,46 bilhões dessa cifra, seguido do consignado privado (R$ 785 milhões) e do crédito pessoal (R$ 783 milhões).

Neste cenário, a receita em intermediações financeiras somou R$ 1,7 bilhão entre janeiro e junho, um salto de 64% frente a mesmo intervalo do ano passado e de 38% em relação ao semestre imediatamente anterior. A variação superou o aumento das despesas (de 16% contra os seis meses finais de 2024), um sinal de melhora na eficiência, de acordo com a empresa.

A fintech reconhece o impacto da Lei do Consignado nos resultados, mas diz não buscar o crescimento a qualquer custo. “Nós olhamos para o consignado novo não como uma alavanca de crescimento desenfreado, mas como algo com o que tentamos respeitar nosso nível de penetração, para alcançar novos mercados com sustentabilidade”, afirma o CTO e vice-presidente de produtos da Neon, Wilton Pinheiro, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

A estratégia tende a ajudar a amortecer os efeitos de um ambiente marcado por avanço nos atrasos de pagamentos na indústria financeira, diante de juros persistentemente elevados.

Em agosto, a taxa de inadimplência nas operações de crédito livre para pessoas físicas no Brasil alcançou 6,8%, 1,3 ponto porcentual acima do indicador de igual mês de 2024, de acordo com dados do Banco Central. Só no consignado privado, a inadimplência estava em 5,3%, em trajetória de queda no ano, mas bem superior ao de servidores públicos (2,8%).

Com capital fechado, a Neon não abre os números internos nessa frente, mas afirma que o cenário é menos pior do que se previa. “Não houve uma piora de inadimplência que machucou o nosso business a ponto de mudar nossa taxa de crescimento ou nossa performance”, diz Pinheiro.

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