Menu

Empresas

Gerdau, Klabin, Suzano e Vale apostam em matérias-primas verdes

Gigantes da siderurgia, papel e mineração inovam na produção de matérias-primas para tornar sua cadeia produtiva mais limpa, verde e eficiente

Grandes empresas apostam em matérias-primas sustentáveis para reduzir emissões de CO2 F(oto: Adobe Stock)

No final de 2023, a Câmara dos Deputados aprovou a lei que regula o mercado de crédito de carbono no País. Muito antes desse marco para a agenda verde do Brasil, quatro grandes empresas brasileiras com atividades econômicas de grande impacto ambiental já procuravam adequar sua cadeia produtiva às exigências do século XXI.  Vale, Gerdau, Suzano e Klabin investiram pesado no desenvolvimento e criação de processos industriais e matérias-primas que buscam eficiência econômica com menor dano ao meio ambiente – é o ESG saindo do discurso e da planilha para de fato ser incorporado à linha de produção das gigantes da siderurgia, celulose e mineração. 

Minério “verde”

No início de dezembro, a mineradora Vale anunciou o início da produção de briquete em sua planta de Tubarão, no litoral do Espírito Santo. O insumo, utilizado como fonte energética no alto-forno da companhia, é produzido a partir da aglomeração a baixas temperaturas de minério de ferro de alta qualidade e permite a redução na emissão dos gases do efeito estufa nesse processo industrial. No futuro, a expectativa é que o hidrogênio verde tenha larga aplicação industrial e substitua o carvão e o gás natural como fontes primárias de energia para produção do aço. Mas para isso será necessário um grande investimento, especialmente público, para captação, produção e distribuição dessa fonte que é considerada por muitos especialistas como a energia do futuro para a indústria 

Enquanto isso não ocorre, a empresa traça metas para descarbonizar gradativamente sua atividade. O briquete despeja 10% a menos de CO2 na atmosfera e a mineradora tem oferecido a alguns de seus clientes a possibilidade da implantação de unidades processadoras de briquete em suas instalações, de olho em uma cadeia produtiva mais limpa. A companhia tem como objetivo reduzir suas emissões líquidas de carbono diretas e indiretas em 33% até 2030 e zerar a emissão de gases do efeito estufa até 2050.

Mais biomassa menos CO2 

A Gerdau é a maior recicladora de sucata metálica de ferro e aço da América Latina, atividade que emite 0,86 toneladas de CO2 pelo equivalente da liga metálica produzida. A siderúrgica tem como ambição ser neutra em carbono até 2050, um objetivo que busca alcançar com o uso de insumos verdes como o biocoque, biomassa produzida a partir da casca e da serragem da madeira de eucalipto. O composto orgânico é uma alternativa ao carvão mineral, utilizado até então como combustível nos altos fornos onde o aço é fabricado. O biocoque começou a ser utilizado em agosto de 2021 na fábrica em Ouro Branco, interior de Minas Gerais, onde a empresa tem sua maior fábrica no mundo. Desde então, foram consumidas cinco mil toneladas de biocoque e a unidade produtiva deixou de emitir 47,6 mil toneladas de CO2 com a utilização dessa biomassa.

A Gerdau estima que o uso de biocoque será uma importante peça em seu processo de transição energética e pretende quadruplicar seu uso nos próximos anos. “Hoje, a Gerdau emite menos da metade de CO2 que a média da indústria mundial de aço. Até 2031, vamos ampliar o uso de energias limpas e renováveis, como eólica e solar, e biomassa, como biocoque, nas nossas unidades produtivas”, diz Rafael Japur, CFO e diretor de Relações com Investidores da Gerdau.

Biocoque é produzido na planta de Ouro Branco, em Minas Gerais, maior fábrica da Gerdau no mundo Foto: Divulgação/Gerdau

Biocoque é produzido na planta de Ouro Branco, em Minas Gerais  Foto: Divulgação/Gerdau

Eucalipto x aquecimento global     

Gigante do segmento papeleiro, a Suzano também aposta no eucalipto para tornar sua linha de produtos descartáveis e artigos de higiene pessoal mais verde e sustentável.  Produzido a partir da fibra do vegetal, o Eucafluff é matéria-prima presente em fraldas adultas e infantis, absorventes íntimos, tapetes para pets e insumos hospitalares, entre outros itens. Segundo a fabricante, com o Eucafluff  é possível elaborar produtos mais finos, discretos e com alto poder de absorção. Por serem mais compactos, é possível diminuir o tamanho das embalagens, as áreas de estocagem e armazenamento desses produtos e o número de caminhões necessários nas operações de transporte, o que também diminui a emissão de CO2 na atmosfera.

Há mais benefícios ambientais envolvidos, segundo a empresa: o eucalipto tem um ciclo de colheita menor que o pinus americano, por exemplo. O primeiro é colhido sete anos após o plantio, enquanto os pinheiros demandam quase quatro vezes mais tempo para serem extraídos e levados para linha de produção. Outro ganho importante é em relação à produtividade. Para cada tonelada de celulose fluff são consumidos 3,5 m³ de madeira de eucalipto, enquanto para a fabricação da celulose a partir do pinus são necessárias 4 m³ de madeira. 

 

Viveiro de mudas de eucalipto da  Suzano Foto: Divulgação/Suzano

Estudos da Suzano apontam que a cadeia produtiva e logística do Eucafluff despeja na atmosfera 30% menos de gases de efeito estufa que o seu similar americano – e as emissões mais baixas de CO2 também se devem ao uso de fontes renováveis de energia na linha de produção, como o lícor negro, um “combustível” verde derivado da madeira que é utilizado na geração de energia para o maquinário. Graças aos esforços verdes da Suzano, o Eucafluff recebeu em 2020 o selo EU Ecolabel, reconhecimento  concedido pelas autoridades da União Europeia a fabricantes que atendem alto padrões ambientais durante todo o seu ciclo.

O eucalipto também está no DNA do Eukaliner, insumo utilizado na fabricação de embalagens que é produzido com 100% de fibra da árvore. Segundo a Klabin, criadora do produto, o material apresenta uma gramatura 10% inferior aos similares sem perder suas principais características e propriedades. Em 2024, a gigante do segmento papeleiro estima uma produção de 450 mil toneladas do insumo em sua unidade instalada no município de Ortigueira, no interior do Paraná. Para atingir essa marca, são necessários 30 mil hectares de área, 20 mil hectares a menos do que o necessário para produzir esse mesmo volume de papel utilizando a fibra de pinus.  “Os ganhos são diversos – indo desde a questão econômica, pelo menor volume de papel necessário, até as questões sustentabilidade, por sua produção demandar 40% menos de área plantada do que a de produtos desenvolvidos com outras fibras”, comenta Francisco Razzolini, diretor de Tecnologia Industrial, Inovação e Sustentabilidade da Klabin.

 

Floresta de eucaliptos da Klabin no interior do Paraná  Foto: Divulgação/Klabin

Todo esse investimento das empresas visa a preservação do meio ambiente, mas não só: ao ter em mente as metas previstas pelo Acordo de Paris para redução de gases do efeito estufa e os Objetivos para Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, especialmente os relacionados ao uso de energia limpa, consumo e produção responsável e ação contra a mudança global do clima, as empresas têm acesso ao chamado crédito verde. São linhas de financiamento com juros mais baixos, carência e prazos de pagamento mais longos destinadas às corporações que apresentem uma pauta ESG bem estruturada e com resultados efetivos. A expectativa de especialistas é que nos próximos anos instituições como Banco do Brasil e BNDES aumentem significativamente a disponibilidade de recursos para quem de fato está se esforçando para devolver ao planeta ao menos um pouco daquilo que extraiu dele. 

Encontrou algum erro? Entre em contato

Compartilhe:

Veja mais notícias de Empresas