NOVA YORK – O Brasil reúne condições para se tornar pilar da descarbonização do transporte marítimo mundial: pode suprir até 15% da demanda global de combustíveis do setor, cortar 170 milhões de toneladas de CO₂ equivalente por ano e atrair investimentos próximos de US$ 90 bilhões, conclui relatório da consultoria Boston Consulting Group (BCG) apresentado no Brazil Climate Summit, em Nova York.
A pesquisa, intitulada ‘Seizing Brazil’s Potential for Low-Emission Marine Fuels’, parte da exigência regulatória da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês), que passa a exigir a redução da intensidade de carbono dos navios a partir de 2028, sob multas de US$ 100 a US$ 380 por tonelada de CO₂ e não abatida. Conforme o BCG, como segundo maior produtor mundial de etanol e biodiesel, o Brasil dispõe de escala agrícola, capacidade industrial e até 25 milhões de hectares de terras degradadas aptas a integrar a cadeia de biocombustíveis sem competir com a produção de alimentos.
“Com as embarcações necessitando reduzir drasticamente a intensidade de suas emissões de gases de efeito estufa, haverá uma crescente demanda por combustíveis marítimos de baixa emissão”, afirma Arthur Ramos, diretor executivo e sócio do BCG. “Neste cenário, os biocombustíveis brasileiros, como o biodiesel e etanol, oferecem alternativas de rápida implementação, competitivas em custo e escaláveis, cujo aumento da oferta será apoiado na restauração de terras degradadas”, avalia.
O estudo calcula que o biodiesel nacional (B100) entrega custo de abatimento de US$ 220-230/tCO2e nos portos brasileiros — bem abaixo das futuras penalidades — e de US$ 280-300/tCO2e em hubs como Roterdã e Cingapura. No caso do etanol, os valores ficam entre US$ 205-210/tCO2e no Brasil e US$ 265-275/tCO2e no exterior, reforçando a atratividade econômica do produto.
“Esta vantagem pode gerar uma redução de aproximadamente 170 Mt de CO2e por ano e atender a 15% da demanda de energia do transporte marítimo até 2050, com uma oportunidade de investimento estimada em cerca de US$ 90 bilhões especificamente para a cadeia de valor de biocombustíveis marítimos”, reforça Ramos.
Para que o potencial se confirme, o BCG aponta a necessidade de consolidar o arcabouço regulatório da IMO, criar mecanismos de incentivo claros até 2027 e avançar na adaptação de motores a metanol compatíveis com etanol. Mesmo assim, a consultoria sustenta que a combinação de vantagens naturais e agenda climática oferece ao País uma chance “única” de liderar a transição energética nos mares e, ao mesmo tempo, recuperar áreas degradadas, impulsionar a agricultura regenerativa e gerar novas receitas em divisas.
O estudo do BCG reafirma ainda o potencial do Brasil de receber uma injeção de US$ 2 trilhões a US$ 3 trilhões em investimentos a partir do compromisso de empresas brasileiras em zerar as emissões de gases do efeito estufa, principais causadoras das mudanças climáticas, até 2050. Nesta conta, estão iniciativas de descarbonização em quatro áreas principais: créditos de carbono, energia limpa, agricultura sustentável e uma revolução verde no setor industrial.