O resultado da Cosan no segundo trimestre de 2025 foi melhorado pela indenização de R$ 444 milhões paga à Moove, empresa subsidiária, após o incêndio em sua fábrica no Rio de Janeiro. O montante não estava na conta dos analistas e foi uma surpresa positiva. No entanto, a maior parte das questões em relação ao futuro do endividamento da companhia continuam as mesmas. A Cosan afirma estar em conversas para vendas parciais de ativos, mas só promete dar mais detalhes até o fim ano.
A XP avalia que o balanço da Cosan no segundo trimestre de 2025 foi “salvo” pela indenização da Moove. A quantia melhorou o Ebitda ajustado pro forma consolidado da holding para R$ 4,8 bilhões, ligeiramente acima da estimativa da corretora. Sem esse ganho, o indicador ficaria 5% abaixo do projetado e evidenciaria um período operacionalmente fraco para a divisão de lubrificantes, cujo Ebitda recorrente despencou 74% no trimestre, para apenas R$ 61 milhões.
O Itaú BBA destacou o mesmo ponto para explicar o indicador acima do previsto. “O momento desse reconhecimento foi inesperado e requer uma compreensão mais aprofundada”, escreveu a analista Monique Greco.
De fato, durante a teleconferência, os analistas buscaram mais informações sobre eventuais novos pagamentos de seguradoras, mas a diretoria da companhia evitou adiantar mais informações. Os executivos afirmaram que não haverá guidance para essa questão, mas que os reconhecimentos seguem acontecendo.
Além desse movimento na Moove, as atenções dos analistas que acompanham a companhia se voltaram – como em outros trimestres – para a alavancagem da empresa e a busca, já declarada, de vender ativos para equalizar as contas.
O CEO da Cosan, Marcelo Martins, disse que a companhia gosta da opção de trazer um sócio estratégico para a Raízen e que tem conversado com a sócia Shell sobre essa opção. “Não faz sentido colocar capital na Raízen hoje. O foco é buscar uma solução para a estrutura de capital da empresa”, disse. Ele afirmou que a Cosan está empenhada em trazer esse terceiro sócio estratégico para o negócio.
Falando mais sobre o processo de busca por desalavancagem da companhia, o diretor financeiro da empresa, Rodrigo Araujo, disse que a companhia tem ativos para os quais considera a solução de venda parcial. “Temos conversas acontecendo e, até o fim do ano, queremos dar uma indicação clara ao mercado”, afirmou.
Ele disse, no entanto, que o processo de desalavancagem não deve terminar neste ano e que a companhia busca uma dívida próxima de zero na holding. “Não queremos prejudicar a qualidade do nosso portfólio ao fim do processo de desalavancagem”, ponderou.
Apesar do desempenho da operação da Moove – que ainda busca retomar volumes de produção após o incêndio -, a Cosan manteve a liquidez confortável, segundo a XP. A dívida líquida corporativa avançou 2,6%, para R$ 23,7 bilhões, mas a companhia encerrou junho com cerca de R$ 4 bilhões em caixa e nenhum grande vencimento até 2028, na visão dos analistas Regis Cardoso e João Rodrigues, da XP. O prazo médio da dívida recuou levemente para 6,2 anos, enquanto o índice de cobertura de juros permaneceu em 1,2 vez.
O Itaú BBA, por sua vez, pontuou que o Ebitda ajustado dos últimos doze meses da Cosan diminuiu, o que, combinado com um aumento na dívida líquida, resultou em um aumento da alavancagem ajustada pro forma para 3,4x no segundo trimestre, em comparação com 2,8x no trimestre imediatamente anterior.
Empresa de dono
Ainda durante a teleconferência, Martins disse que o tema de sucessão nos negócios é importante e discutido na companhia. No entanto, deixou claro que o poder de decisão é do fundador e sócio controlador da empresa, Rubens Ometto e sua família.
A resposta veio após uma pergunta do analista Gabriel Barra, do Citi, que citava o tema da sucessão e questionava sobre a possibilidade de que, na ausência de um sócio estratégico para a Raízen, a Cosan trouxesse um sócio para a empresa mãe.
“Na falta de sócio estratégico na Raízen, não há necessidade de trazer sócio na Cosan”, pontuou o CEO.
O prejuízo líquido da Cosan foi de R$ 946 milhões no segundo trimestre de 2025, frente a um resultado também negativo de R$ 227 milhões no mesmo trimestre de 2024.