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99 relança delivery de comida e promete ‘desafiar monopólio’ do iFood

Empresa anunciou que vai investir R$ 1 bilhão para voltar a oferecer serviço no Brasil

Restaurantes arcarão apenas com os custos de entrega, diz 99 (foto: divulgação)

O segmento de delivery de comida deve apresentar mudanças significativas nos próximos meses: a 99 anunciou em meados de abril que vai investir R$ 1 bilhão para relançar o 99 Food no Brasil. Também no mês passado começaram a surgir indícios de que a chinesa Meituan, maior empresa de entrega de refeições do mundo, chega ao País no fim do ano para disputar o mesmo mercado.

A movimentação está relacionada a um acordo celebrado entre o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e o iFood em 2023. À época, investigações do órgão indicaram que a plataforma de entrega de comida estaria abusando de sua posição dominante, por meio da imposição de compromissos de exclusividade aos restaurantes cadastrados na plataforma, de outras práticas que teriam a mesma finalidade. Tais condutas estariam elevando barreiras à entrada de novos concorrentes no mercado e teriam efeitos exclusionários.

“Essas mudanças começam a entrar em vigor agora e terão efeito mais acentuado no ano que vem”, afirma Bruno Rossini, diretor sênior da 99. Rossini também aponta para “uma insatisfação do mercado de uma forma bem ampla com o cenário que está colocado e as práticas até abusivas, vamos dizer assim, em termos de taxas” cobradas pela concorrência. “A gente volta para desafiar o monopólio do iFood e mudar esse ecossistema”, afirma o executivo da 99. A seguir, confira os planos da empresa para o mercado de delivery de comida no País.

A 99 encerrou as operações de entrega de comida no Brasil em 2023? O que aconteceu naquela época?
Bruno Rossini – Quando a gente terminou a operação aqui no Brasil, sendo muito sincero, a possibilidade de competitividade não existia dentro do mercado. Não era possível competir de maneira justa, se desenvolver e continuar investindo. Esse também é o principal motivo pelo qual a gente resolveu voltar. Mas, apesar de a gente ter saído do Brasil em 2023, nós continuamos a operar com o negócio de comida em outros 15 países. Isso porque a 99 tem como controladora a chinesa Didi. No México, por exemplo, a Didi é a plataforma de entrega de comida mais utilizada do México. Então continuamos desenvolvendo a tecnologia e acumulamos a experiência de operar nesse segmento.

O que mudou nos últimos anos?
A primeira coisa, que é a mais exponencial, é o fim da exclusividade. São as movimentações que o Cade fez ainda em 2023, mas que começam a entrar em vigor agora e terão efeito mais acentuado no ano que vem, que facilitam que a gente possa colocar o nosso modelo de negócio no ar. A segunda é que eu acho que hoje existe uma insatisfação do mercado de uma forma bem ampla com o cenário que está colocado e as práticas até abusivas, vamos dizer assim, em termos de taxa.

A provável chegada da Meituan ao Brasil no final do ano antecipou os planos da 99 para relançar o 99 Food no País? Como vocês avaliam essa movimentação?
Vimos alguns dos rumores que você mencionou, mas não podemos comentar sobre especulações. Respeitamos as companhias que buscam oferecer, cada vez mais, opções que promovam conveniência e facilidade ao dia a dia das pessoas. Acreditamos que a concorrência é boa e que podemos ambos expandir o mercado de entrega de comida e fornecer uma ótima nova opção para restaurantes e todos os brasileiros.
(Nota do editor: a Meituan é considerada a maior empresa de delivery de comida do mundo e há indícios de que a companhia se prepara para começar suas atividades no Brasil no final de 2025.)

Por que vale a pena voltar agora?
O que mais se entrega no Brasil é comida. É algo essencial e todo mundo, se puder, pede comida mais de uma vez por dia. Existe espaço para a gente colocar inovação em tecnologia para mudar o mercado e fazer esse serviço mais acessível, mais inteligente, mais eficiente, vamos dizer assim.

A 99 anunciou que vai investir R$ 1 bilhão no Brasil em 2025. Como esse dinheiro vai ser investido?
Nós não divulgamos exatamente quanto vamos gastar em cada divisão da empresa, mas posso te afirmar, categoricamente, que a grande maioria do investimento desse valor será usada para o relançamento de Food no Brasil. Os nossos outros negócios já têm entrada, o 99 tem milhões de corridas por mês, então a gente consegue equilibrar bem essas coisas para destinar a maioria desse orçamento de um bilhão para o lançamento do Food.
(Nota do editor: além do app de mobilidade 99 e da 99 Food, a empresa tem uma unidade de negócios chamada Pay, fintech que tem como carro-chefe o microcrédito, e uma unidade especializada em entregas, que concorre com startups como a Lalamove.)

Vocês também anunciaram que os restaurantes que aderirem ao 99 Food não vão pagar taxas por 24 meses. Esse valor é para subsidiar esse gasto?
Eu fico muito feliz de responder a sua segunda pergunta com um “não”. O investimento que está sendo feito não serve para cobrir as taxas. Não estamos anunciando uma promoção, não é algo que depois de 24 meses efetivamente vai mudar para o restaurante. A gente volta para desafiar o monopólio do iFood e mudar esse ecossistema. O que a gente está anunciando é uma nova estrutura de custos, de como fazer parceria com os restaurantes, de como cobrar de um jeito diferente e entender também o que é suficiente ou não. Não adianta colocar “portas”: primeiro eu cobro 10%, depois vou começar a cobrar 15%, depois vou começar a cobrar 20%, não é isso. Nosso principal objetivo é crescer o bolo como um todo, em vez de ficar todo mundo competindo pelo mesmo pedaço [do mercado]. Quando a gente retira as taxas, eu acho que tem dois efeitos muito práticos.

Quais?
O primeiro é a inclusão de restaurantes. Hoje, 30% dos bares e restaurantes não oferecem delivery porque a maioria deles porque conseguem pagar as taxas cobradas pelas plataformas. O segundo efeito é reduzir o custo dos pedidos. Um pedido médio no Brasil, hoje, é de uns R$ 100, mas vai sair para o cliente por R$ 130, por causa das taxas. Quando a gente deixa de cobrar as taxas, a gente devolve para o restaurante a capacidade de ter controle de preço, de fazer promoção. Com preço mais baixo, o número de pedidos deve aumentar.

E como vocês pretendem lucrar com o 99 Food?
Sendo bem honesto, nosso objetivo é ganhar na entrega. A gente vai usar uma estrutura que também é diferente do mercado, que é preço fixo da quilometragem na entrega. Então é dali que vai sair a lucratividade do nosso negócio. E queremos trabalhar com uma demanda mais alta. Pensa que hoje a gente tem na nossa base 700 mil entregadores, no Brasil inteiro. Então, a gente tem como dar conta de uma demanda verdadeiramente grande com a eficiência que a gente já tem no nosso ecossistema.

Como isso beneficia os outros negócios da empresa?
A entrega de comida faz parte dos planos de longo prazo. Embora não seja nosso foco nesse momento, o que está no nosso radar é combinar benefícios entre os serviços que a gente oferece para levar mais valor para os usuários. Por exemplo, se você pede muita comida, como é que eu consigo transformar isso em descontos em corridas por aplicativos? Se você paga com 99Pay, como eu consigo transformar isso em cashback, por exemplo, que hoje é um grande benefício para as pessoas? Se eu crio um programa de fidelidade, se eu puder se integrar isso um pouco melhor, será que eu consigo oferecer comida ainda mais barata ou grátis para as pessoas, se elas chegarem num certo nível de utilização? A visão e a grande parte desse R$ 1 bilhão de investimento está para construir um ecossistema de conveniência digital, onde um serviço cria benefício para o outro e a gente gera valor de verdade para as pessoas. Mas para isso, a primeira peça da movimentação desse quebra-cabeça é relançar a 99 Food.

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