Bancos, construção civil e empresas ligadas ao consumo são as principais escolhas de analistas ouvidos pelo Broadcast para a Bolsa no segundo semestre, com a expectativa de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed) em setembro. Frente a incertezas do cenário macroeconômico local, no entanto, a recomendação é manter a cautela.
Na Bolsa, os bancos são vistos como opções seguras, enquanto construção civil e empresas de consumo, que apresentaram resultados positivos na temporada de balanços, devem se beneficiar dos efeitos da possível redução do juro norte-americano.
Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, diz que, por outro lado, internamente, há possibilidade de aumento da taxa Selic. Por isso, é importante identificar em quais setores aportar recursos.
Ele tem o Bradesco como sua opção preferida dentre os bancos e, em construção civil, a Eztec é top pick. “Cury e Direcional são empresas que o mercado está observando bastante também”, diz. Consumo está na lista, com Azzas como destaque.
Já o Itaú BBA tem apostado no que o seu estrategista-chefe de ações LatAm, Danniel Gewehr, chama de “cíclicas de qualidade”, com rentabilidade sobre patrimônio acima de 15%. “Estamos aumentando nossa exposição a setores domésticos, mas com cuidado.” Ele explica que a casa segue evitando ações altamente alavancadas. “Embora o cenário macroeconômico e a temporada de resultados tenham sido positivos, não foram suficientes para ser um game changer”.
O Itaú BBA também tem a Direcional e a Azzas como destaques. Gewehr vê que a companhia sai fortalecida no mercado após a fusão de Arezzo com a Soma, além de estar em um ciclo de melhora com alavancagem controlada.
Já o BB Investimentos começou a observar recentemente o setor imobiliário, mas não foge das commodities e do setor financeiro, tidos como um porto seguro, por serem resilientes e rentáveis na Bolsa, diz o Head de Research, Wesley Bernabé.
Atualmente, a carteira recomendada da casa tem 20% de seu capital no setor financeiro, 20% em commodities, 20% no setor imobiliário, 20% em utilities, 10% em varejo não cíclico e 10% em indústrias. BTG Pactual, Copasa, Cury, Direcional, Itaú Unibanco, Petrobras, Isa Cteep, Vale, Vibra Energia e Weg compõem o portfólio do BB.
Para o Head de Investimentos do Santander, Alessandro Farias, mesmo com a possibilidade de uma alta na Selic e a incerteza em torno do fiscal serem pontos de atenção para o mercado, a Bolsa está com preços atrativos e setores como consumo e o financeiro devem ter uma boa performance nos próximos meses.
Setembro
Este cenário positivo se reflete nas recomendações das carteiras de setembro, anunciadas hoje por grandes bancos. O Banco Safra, com foco no setor bancário, incluiu Bradesco e Itaúsa, uma holding de investimentos financeiros e industriais. O banco prevê que o Bradesco melhore sua rentabilidade com uma perspectiva econômica melhor. A queda recente nas ações da Itaúsa é considerada uma oportunidade de compra. Ao mesmo tempo, o BB Investimentos adicionou a B3 à sua lista.
Mesmo com a redução da exposição ao setor financeiro para 20%, em comparação com os 25% do mês anterior, e com uma preferência maior por serviços públicos e varejo, o BTG Pactual incluiu o Banco do Brasil em sua carteira de setembro, mantendo também o Itaú. A adição de Vivara pelo BTG reforça a visão sobre empresas de consumo, indicando a expectativa de que a joalheria continue mostrando uma melhora na performance dos lucros no segundo semestre do ano.
A escolha por empresas nacionais também demonstra uma tendência, segundo a chefe de estratégia para ações do JPMorgan no Brasil, Emy Shayo. Ela destaca que no início do ano a preferência da casa era por setores financeiros e ligados a commodities, por exemplo, graças à exposição ao dólar.
Hoje, com a melhora que empresas domésticas tiveram no segundo trimestre, ela levanta a necessidade de olhar de forma mais “agnóstica” para os setores, apontando que, diante do cenário de crise vivido na China, papéis ligados a commodities não perderam peso, mas são definitivamente um ponto de atenção.
Na mesma linha, XP retirou Suzano de suas principais recomendações para setembro por conta das “pressões de curto prazo nos preços da celulose”.
Cautela
De forma geral, o mercado ainda mantém a cautela. Analistas de bancos de investimentos e corretoras ouvidos pelo Broadcast ponderam que a alta da Bolsa e os bons resultados da safra de balanços do segundo trimestre já estavam precificados nos ativos.
Bernabé, do BB Investimentos, avalia que os estrategistas de ações estão adotando abordagens mais táticas, priorizando papéis mais líquidos que permitem desfazer posições e transferir recursos para outros mercados com facilidade, caso o cenário previsto não se concretize. Levando isso em conta, ele considera prematuro focar em empresas com alta sensibilidade ao mercado interno e volatilidade nos retornos.
Já Farias, do Santander, diz que o movimento macroeconômico global obviamente traz uma perspectiva mais otimista para a bolsa, mas reforça que o banco mantém uma postura neutra. A casa elevou recentemente sua recomendação para a Bolsa brasileira de underweight (o equivalente à venda) para neutra, mas vê que o cenário segue com muita imprevisibilidade, com a incerteza fiscal e a Selic em patamar elevado.
“Dado todo esse cenário ainda de incerteza, por mais que a gente veja o Fed sinalizando mais fortemente cortes de juros, o que gera um efeito aqui de rotação de portfólio que beneficia países emergentes, como o Brasil, a gente ainda tem um otimismo cauteloso”, diz.
Shayo, do JPMorgan, também acredita que o movimento nos Estados Unidos ajuda mercados emergentes como um todo. Mas, apesar de ser um momento de maior alocação em renda variável, ela não vê rotação de setores.
Atualmente o banco tem uma posição abaixo do neutro para setores de commodities no Brasil e uma posição acima do neutro para os setores financeiro e de saúde. O setor elétrico segue como neutro e o consumo também.