Analistas de consultorias de preço, corretoras e bancos apontam que o cenário que as usinas nacionais enfrentam atualmente passaria por uma “grande mudança” positiva se o governo atender ao pleito do setor siderúrgico de aumentar o imposto de importação do aço de aproximadamente 12% para 25%.
Enquanto consultorias anunciam tentativas de reposição, analistas veem poucas chances do esforço ser bem-sucedido devido à demanda fraca por aço, além do mercado neste momento estar em uma sazonalidade, com menor interesse na compra do insumo.
Para a analista sênior de siderurgia da CRU, Thais Terzian, um aumento na taxação para 25% dos importados poderia permitir às usinas um reajuste de 10% no aço, mas ela aponta preocupações com a demanda.
“Se aumentar o imposto, eles provavelmente vão aumentar o preço. O risco é um efeito colateral. Estamos falando de uma alta forte nos preços, que podem provocar uma destruição de demanda. As usinas falam em proteger o mercado, mas isso pode acabar prejudicando os consumidores”, afirmou Thais, que vê a bobina a quente nacional negociada a US$ 825 a tonelada, enquanto o mesmo produto importado da China custa US$ 727 no Brasil.
A demanda por aço no Brasil é composta principalmente pelos setores automotivo, de construção, indústria naval, máquinas e equipamentos, eletrodomésticos, embalagens, entre outros. Durante o ano de 2023, as empresas compradoras de aço no geral não apresentaram crescimento significativo, o que mostra riscos de que esses segmentos não consigam suportar um forte nível de repasse de preços.
A editora-chefe da consultoria S&P Global Platts, Adriana Carvalho, acrescenta que, por outro lado, os preços das matérias-primas do setor siderúrgico aumentaram, mas as usinas mantiveram os preços domésticos, o que coibiu reajustes desde o terceiro trimestre de 2023. “O prêmio do material nacional sobre o material importado ficou abaixo dos 15% durante todo o mês de dezembro, o que indica um esforço das siderúrgicas em conter as importações e se manter competitivo no âmbito mundial”, acrescentou.
Outro cenário para o aço nacional
O analista do Itaú BBA, Daniel Sasson, está cético com relação ao governo sobretaxar em 25% a importação de aço. O especialista, contudo, reconhece que haveria uma “mudança no jogo” caso o cenário aconteça. Para ele, a Usiminas seria a empresa mais beneficiada.
“Vemos a Usiminas se beneficiando um pouco mais pela maior exposição ao negócio de siderurgia doméstico. É importante lembrar que a Gerdau tem metade dos resultados fora do Brasil, e para a Companhia Siderúrgica Nacional, metade dos resultados são apurados a partir das atividades de mineração. Então eu diria que a Usiminas deve ser a mais beneficiada nesse cenário”, afirmou.
Para o analista Igor Guedes, da Genial Investimentos, acrescenta que as siderúrgicas estão “desesperadas” para aumentar preços, em função das margens (diferença entre custo e venda do produto) estarem registrando um nível abaixo do valor tradicional. Para ele, o governo pode realizar algum movimento de defesa comercial no primeiro trimestre de 2024, com algum nível menor de aumento na taxa de importação do aço, mas fora dos 25% pleiteados pelas siderúrgicas.
“Trabalhamos com a possibilidade de aumento para algum valor próximo de 17%”, afirmou Guedes. O analista acrescentou que o pleito do setor siderúrgico não é excessivo, mas há dificuldade por conta dos riscos de danos à demanda em um movimento do tipo.