Os investimentos do Assaí devem ser “bem restritos” em 2026, segundo o CEO da companhia, Belmiro Gomes. O executivo projeta uma cifra de cerca de R$ 700 milhões, enquanto o foco da companhia segue no aumento de eficiência e desalavancagem. Diante do cenário de juros elevados, Gomes projeta ainda uma estabilidade de capital de giro nos próximos meses. “Não pretendemos elevar nível de estoque, porque isso gera um custo alto”, afirmou durante teleconferência de resultados, na sexta-feira, 7.
Sobre a abertura de novas lojas, o CEO do Assaí reforçou que o processo tem sido bastante seletivo. “As unidades que iremos inaugurar terão uma rentabilidade maior”, disse.
Gomes falou ainda sobre o projeto de marcas própria da companhia. A expectativa é de que os produtos estejam nas prateleiras no primeiro trimestre de 2026. “Isso vai permitir capturar margem e atender demanda por itens de menor desembolso”, projetou.
Falta de mão de obra é problema para o comércio
A falta de mão de obra tem sido um problema para diversas áreas do comércio, diz Gomes. Ainda assim, o executivo destaca que a companhia tem conseguido manter cerca de 95% do seu quadro de funcionários completo. “Como nossas vagas são mais voltadas para o público de média renda, a tolerância é um pouco maior, mas é um problema para o comércio como um todo”, disse durante teleconferência de resultados nesta sexta-feira.
Gomes destacou o desafio da alta rotatividade no setor enquanto o Assaí tem cerca de 200 a 300 funcionários por loja. “Conseguimos repor as vagas, mas é desafiador com altos custos trabalhistas e problemas com bets, por exemplo”, acrescentou.
Uma das estratégias para minimizar esse impacto é o self checkout. “Isso ajuda a tirar pressão do nosso quadro de funcionários”, disse. Atualmente, cerca de 90% das lojas do Assaí já contam com esse modelo, que contribui ainda para o ganho de produtividade.
‘Trajetória de desalavancagem segue firme’
A trajetória de desalavancagem (redução de endividamento) do Assaí segue firme, mesmo em um ambiente mais restrito de consumo e juros elevados, avaliou Gomes. O CEO destacou que o indicador atingiu o menor nível em quatro anos no terceiro trimestre de 2025.
A alavancagem do Assaí ficou em 3,03 vezes no período ante 3,52 vezes um ano antes. Já a dívida líquida da companhia, considerando os recebíveis, registrou uma redução de R$ 500 milhões na mesma base comparativa, somando cerca de R$ 13,4 bilhões.
“A forte geração de caixa tem impulsionado a redução da dívida líquida”, afirmou Gomes durante teleconferência de resultados promovida nesta sexta-feira, 7.
Por outro lado, o CEO disse que o lucro líquido segue “bem impactado por serviço da dívida” diante dos patamares ainda elevados de juros. “Se os juros estivessem menor, poderíamos desalavancar ainda mais rápido”, complementou.
Ainda assim, Gomes considera que a eficiência operacional e controle de despesas, com crescimento abaixo da inflação, têm contribuído para minimizar os impactos da taxa Selic. Para ilustrar, ressaltou o avanço de 6% no Ebitda ano contra ano, somando R$ 1,082 bilhão.
Gomes projeta um prazo de mais 15 dias, a contar da sexta-feira, 7, para a divulgação da decisão sobre a medida cautelar ajuizada pela companhia contra o GPA e o Casino. Com o pedido, protocolado no final de setembro, o Assaí busca evitar ser responsabilizado por dívidas tributárias anteriores à cisão das companhias.
Gomes afirmou, no entanto, não ser possível fornecer mais detalhes sobre a decisão, já que o processo ainda está em análise pela Justiça. “O juiz responsável segue ouvindo todas as partes e esperamos um prazo adicional de 15 dias”, afirmou durante teleconferência de resultados.
Neste ano, porém, a companhia sofreu Procedimento Administrativo de Reconhecimento de Responsabilidade (PARR), no valor aproximado de R$ 36 milhões, relativos a parte dessas contingências. Com o movimento, a empresa visa se defender não apenas desse procedimento de R$ 36 milhões, mas de outros que podem surgir, considerando que o GPA acumula contingências bilionárias, nas contas de fontes ligadas ao Assaí.
Apesar de não se aprofundar no tema, o CEO do Assaí disse, na teleconferência, enxergar de forma muito positiva as mudanças recentes de controle no GPA. No final de outubro, o grupo anunciou a renúncia de Marcelo Pimentel dos cargos de diretor-presidente e de membro do conselho de administração. O diretor Financeiro e de Relações com Investidores, Rafael Russowsky, foi indicado para ocupar o cargo como interino, acumulando com as funções.
O que dizem as empresas
“Os instrumentos da cisão, concluída em 31 de dezembro de 2020, preveem que não há solidariedade entre as companhias quanto a passivos gerados até a data da cisão, nos termos do art. 233, parágrafo único, da Lei das Sociedades por Ações, sendo cada parte individualmente responsável por seus passivos”, disse o Assaí por meio de fato relevante divulgado em setembro.
O GPA, por sua vez, disse que vem cumprindo integralmente todas as obrigações previstas no Contrato de Separação e Outras Avenças, firmado com o Assaí em 14 de dezembro de 2020 e posteriormente aditado. A varejista ressaltou que adotará todas as medidas necessárias para resguardar seus interesses.
Quanto a companhia prevê investir em 2026
Na noite de sexta-feira, 7, o Assaí informou que revisou suas expectativas de investimentos para 2026, passando a estimar um desembolso de aproximadamente R$ 700 milhões na visão caixa. A nova projeção leva em conta o cenário macroeconômico atual e as expectativas para o próximo ano, destaca. Segundo ainda a varejista, a revisão faz parte da estratégia de manter disciplina financeira e foco na redução da alavancagem. Mesmo com o ajuste, o Assaí mantém a previsão de abertura de dez novas lojas no ano que vem.
Para 2025, contudo, o grupo reiterou as projeções anteriormente divulgadas, prevendo investimentos entre R$ 1,0 bilhão e R$ 1,2 bilhão, também com a inauguração de dez lojas. O Assaí ressaltou que as projeções são válidas até uma nova revisão ou até a concretização das metas. As estimativas, também conforme a companhia, refletem as expectativas atuais da administração e estão sujeitas a riscos e incertezas ligados às condições de mercado e à economia brasileira. /Com Amélia Alves