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Agricultura

BrasilAgro vê janela para comprar terras em meio a estresse financeiro; vendas seguem no radar

O diretor-presidente, André Guillaumon, diz que a companhia pretende combinar compras pontuais no Brasil e no exterior com a manutenção do giro do portfólio

Em relação a arrendamentos, a companhia atua com cautela (Foto: Brasil Agro/Adobe)

A BrasilAgro enxerga um ambiente mais favorável para aquisições de fazendas nos próximos trimestres, impulsionado pelo estresse financeiro de parte dos produtores e pela maior oferta de ativos. O diretor-presidente, André Guillaumon, disse que a companhia pretende combinar compras pontuais no Brasil e no exterior com a manutenção do giro do portfólio. “Já começou a ter uma acomodação (de preços) e a ter oferta. Estamos bem pautados nisso”, afirmou.

Segundo Guillaumon, produtores que evitarem entrar em recuperação judicial – pelo custo e pelos efeitos sobre o crédito – tendem a buscar liquidez vendendo propriedades. “Essas pessoas que têm essa cabeça de que entrar numa RJ vai me comprometer muito no futuro vão trazer ativos e vão buscar liquidez. Esse vai ser o cliente vendedor”, disse. Ele ponderou, porém, que processos de compra em momentos de crise são mais longos, por envolverem negociações familiares e ajustes de preço.

O executivo citou a diversificação geográfica como alavanca para calibrar o calendário de transações. “Não está bom para vender em Mato Grosso, mas está muito bom para vender na Bahia, por causa de projetos de irrigação e maior liquidez. Essa diversificação permite movimentos diferentes em cada região”, afirmou.

Em relação a arrendamentos, a companhia atua com cautela. “O arrendamento já começou a acomodar; vemos reduções de 1 a 2 sacas. Mas, com os preços atuais, tem de cair mais para viabilizar novas operações. Uma operação trivial de soja e milho safrinha no Mato Grosso, nesses níveis, nós não vamos fazer”, disse.

Guillaumon afirmou que a estratégia da companhia continua baseada em combinar o resultado agrícola com a valorização das fazendas ao longo do tempo. “Somos anticíclicos: quando o ciclo piora para alguns, aparecem boas oportunidades. Vamos continuar vendendo onde há liquidez e comprando onde fizer sentido”, disse.

O portfólio da BrasilAgro soma 252.796 hectares no Brasil, Paraguai e Bolívia, dos quais 188.727 hectares são agricultáveis, de acordo com o release do 1T26. A avaliação interna de mercado das propriedades foi estimada em R$ 3,1 bilhões em 30 de junho de 2025, enquanto a Deloitte calculou R$ 3,5 bilhões, com valor médio de R$ 29.596 por hectare útil. No trimestre, não houve receita com venda de fazendas. No 1º trimestre de 2025, a BrasilAgro havia registrado R$ 129,3 milhões com a alienação de propriedades, o que reforçou o resultado do período naquele ano.

Os resultados do 3º trimestre de 2025

A BrasilAgro registrou prejuízo de R$ 64,3 milhões no primeiro trimestre do ano-safra 2025/26, encerrado em 30 de setembro. No mesmo período do ciclo anterior, a empresa havia obtido lucro de R$ 97,5 milhões. A receita líquida somou R$ 286,6 milhões, queda de 37%, influenciada pela ausência de venda de fazendas no trimestre. No 1º trimestre de 2025, essa operação havia contribuído com R$ 129,3 milhões.

O Ebitda (resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado foi de R$ 64,3 milhões, retração de 62% na comparação anual. Considerando apenas a atividade agrícola, o Ebitda ajustado operacional também foi de R$ 64,3 milhões, com margem de 21%, ligeiramente superior à do ano anterior.

O resultado financeiro foi negativo em R$ 40,1 milhões, ante praticamente estabilidade um ano antes. O movimento reflete a marcação dos recebíveis de vendas de fazendas concluídas em anos anteriores, que são atualizados conforme o preço de mercado da soja. Entre junho e setembro, a referência caiu de R$ 140,29 para R$ 128,48 por saca, o que reduziu o valor a receber. Revisões em contratos de arrendamento também contribuíram para o ajuste. “O trimestre está muito influenciado por estimativas que não representam saída de caixa. Quando olhamos só a operação, estamos dentro do planejado, com exceção da cana”, afirmou o diretor financeiro, Gustavo Lopez.

A cana-de-açúcar teve resultado mais fraco após geadas tardias em Brotas (SP). A empresa precisou colher antes do ponto ideal, reduzindo tanto o ATR quanto a produtividade. O impacto estimado foi de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões no trimestre. “A geada atingiu áreas ainda em formação. Se não colhe, a cana perde qualidade. Tivemos de antecipar toda a colheita nessas áreas”, disse o diretor-presidente André Guillaumon.

Na soja, a quantidade vendida aumentou 11%, para 63,2 mil toneladas, com margem bruta de 30%. A BrasilAgro segurou parte das vendas para o segundo semestre, visando melhores prêmios de exportação. “Nós deixamos de vender soja num momento de prêmio negativo e carregamos estoque para vender com prêmio positivo. Isso melhorou o preço médio realizado”, afirmou Guillaumon.

No milho, a margem bruta chegou a 20%, beneficiada por redução de custos e preços mais altos em relação ao ano anterior.

A dívida bruta somava R$ 895 milhões ao fim do trimestre. Com R$ 236,2 milhões em caixa, a dívida líquida ficou em R$ 658,8 milhões. Considerando os recebíveis das fazendas já vendidas, a dívida líquida ajustada caiu para R$ 7,1 milhões, equivalente a 0,04 vez o Ebitda ajustado dos últimos 12 meses.

Estratégia comercial centrada na venda de soja

A BrasilAgro adotou neste início de ano-safra uma estratégia comercial mais concentrada no segundo semestre para a soja, priorizando momentos de prêmio positivo no mercado. A companhia carregou aproximadamente R$ 100 milhões em estoques da oleaginosa para venda após setembro, evitando negociar volumes quando os prêmios de exportação estavam negativos. A decisão permitiu que a margem bruta da soja se mantivesse em 30% no primeiro trimestre, mesmo com queda de 6% no preço médio da commodity.

“Deixamos de vender soja com prêmio negativo e começamos a vender soja com prêmio positivo. Vendemos com prêmio de 50, 60, 80 centavos, alguns volumes acima de 100 e até 150 centavos. Fizemos um preço médio de prêmio muito melhor”, afirmou o diretor-presidente da companhia, André Guillaumon.

Segundo ele, a decisão de carregar estoque foi tomada entre março e abril, quando o prêmio começou a ficar negativo e a companhia avaliou que não haveria movimento favorável em Chicago no curto prazo.

A receita líquida com soja no primeiro trimestre somou R$ 120,6 milhões, alta de 2% em relação ao mesmo período do ano anterior, com volume faturado de 63,2 mil toneladas – aumento de 11%. O preço médio caiu 6%, para R$ 1.907 por tonelada, mas o custo unitário recuou 7%, para R$ 1.333 por tonelada, sustentando a margem. A companhia já tem 56% da safra 2025/26 comercializada, com 42% do câmbio travado a R$ 6,19. “Aproveitamos aquele momento de instabilidade cambial para travar o dólar. Uma parte da nossa receita de soja já está vendida com dólar de R$ 6,19. O outro pedaço está no spot, que hoje está em R$ 5,70 ou R$ 5,80, mas já temos um bom pedaço protegido”, disse Guillaumon.

O executivo destacou que a estratégia envolveu também a gestão de custos em dólar. A companhia comprou insumos em dólar, mas não pagou no momento de câmbio elevado, aguardando a desvalorização. “Não estava bom para pagar insumo quando o dólar estava alto. Compramos em dólar, ficamos com a posição aberta, o dólar baixou e agora estamos pagando insumo com preço mais baixo”, afirmou.

O diretor financeiro e de relações com investidores, Gustavo Lopez, disse que a companhia espera uma redução de 8% a 10% no custo de produção da soja em relação ao orçamento inicial, por conta da valorização do real. O orçamento original previa custo de R$ 4.200 por hectare, mas parte dos insumos em dólar terá pagamento em novembro e abril, com câmbio mais favorável. “Do lado da receita, a expectativa inicial era de um dólar de R$ 6, Chicago de US$ 10,50 e prêmio de 20 centavos positivos, o que daria uma saca de R$ 116 a R$ 117. Hoje, com Chicago de US$ 10 e prêmio próximo de zero, a receita fica muito parecida, mas com variáveis diferentes”, afirmou Lopez.

No milho, a margem bruta chegou a 20% no trimestre, resultado da combinação entre alta de 19% no preço de venda e queda de 28% no custo por tonelada. A receita líquida com a cultura somou R$ 19,5 milhões, alta de 17%, com volume faturado de 23,8 mil toneladas. A companhia tem 100 mil toneladas de milho ainda para vender na safra atual. “O milho deu um resultado de quase R$ 10 milhões, uma diferença importante em relação ao ano passado, quando o preço estava deprimido e o resultado foi negativo”, disse Lopez.

Para a safra 2025/26, a BrasilAgro projeta colher 442,6 mil toneladas de grãos e algodão, volume 21% superior ao de 2024/25. A companhia já plantou 24% da soja, com 40% da área de Mato Grosso dentro da janela ideal. O plantio no Maranhão e Piauí começou na primeira semana de novembro, após a chegada das chuvas. “As chuvas estão se comportando bem. Até agora, basicamente todo o plantado está muito bem nascido, muito bem cultivado. A gente está com uma esperança de que é um ano de boa safra”, disse Guillaumon.

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