Estudo do departamento econômico do banco Daycoval aponta que o mercado de trabalho brasileiro está começando a migrar de um quadro aquecido para sinais incipientes de baixa demanda por mão de obra, o que é verificado nos setores de indústria, comércio e alojamento e alimentação – justamente os mais afetados pela política monetária mais restritiva.
Em relatório divulgado na quarta-feira, 15, a equipe econômica do banco decompõe a oferta e demanda por trabalho por setor econômico, com base em metodologia da distrital de Boston do Federal Reserve (Fed), e analisa a evolução do Rendimento Médio Habitacional (RMH) real em conjunto com a da ocupação em dez ramos.
Em agosto, por este critério, os três segmentos citados no primeiro parágrafo já estão no quadrante de baixa demanda, ou seja, com salários e ocupação operando abaixo de suas tendências. “Tais setores foram os que mostraram desaceleração da atividade econômica de forma mais intensa após o aperto monetário, indicando que os efeitos defasados da política monetária no mercado de trabalho possam estar começando a aparecer”, afirma a instituição.
A maioria das categorias econômicas, no entanto, ainda estaria enfrentando quadro de escassez de oferta. São eles agricultura, construção, transporte, tecnologia e finanças, outros serviços e serviços domésticos. “O mapa setorial revela uma trajetória crível para o último ano e meio: passamos de alta demanda por trabalho no meio de 2023 para um período de escassez de oferta no fim de 2024 até meados de 2025, e, agora, alguns setores começam a mostrar baixa demanda por trabalho”, nota o Daycoval.
Segundo o banco, os serviços são o componente da atividade mais resiliente, até o momento, ao ciclo de alta de juros, mas já é possível observar indícios de perda de fôlego. A expectativa é de que dados de mercado de trabalho relacionados ao setor terciário demorem mais adentrar no terreno de baixa demanda por mão de obra, avalia a instituição.
Olhando à frente, se o padrão de menor procura por mão de obra no agregado da economia se consolidar, a tendência é que os fundamentos do emprego, defasados em relação à atividade econômica, passem a desacelerar, diante do patamar restritivo da política monetária, diz o Daycoval.
