A possibilidade de uma oferta pública de aquisição (OPA) para o fechamento do capital da Neoenergia ganhou força após o anúncio de que a Iberdrola fechou um acordo para adquirir a participação da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ) na elétrica brasileira, numa operação de 1,88 bilhão de euros (R$ 11,95 bilhões).
Oficialmente, as empresas não fizeram qualquer comentário a esse respeito, mas pessoas próximas a elas dizem que a OPA é iminente, com trabalhos preliminares ao pedido de autorização para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já em execução. A avaliação inicial é de que a operação pode começar ainda este ano.
A concretização da compra da fatia de 30,29% da Neoenergia hoje pertencente à Previ pela Iberdrola depende de aprovação por parte da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), entre outras condições precedentes, para ser concluída, o que é esperado para ocorrer no quarto trimestre deste ano, informou a Iberdrola.
Com a aquisição, a Iberdrola passará a deter 83,8% da Neoenegia, enquanto o free float fica com só 16,2% das ações no mercado, abaixo dos 25% que é o mínimo exigido pelo Novo Mercado. Assim, há duas possibilidades, ou a empresa terá que fazer uma oferta subsequente de ações pra se enquadrar ou uma oferta para fechar o capital. “Acredito mais nesta segunda opção”, disse um advogado de fusões e aquisições.
Analistas que acompanham a Neoenergia também consideram alta a chance de OPA, tendo em vista que rumores sobre o interesse do grupo espanhol em fechar o capital da elétrica brasileira rondam a companhia há tempos, enquanto a Previ seria o maior empecilho para isso. E o tema ganhou força no início deste ano, quando a Iberdrola concluiu um aumento de capital de 5 bilhões de euros, que fortaleceu seu balanço e alimentou especulações de que parte dos recursos poderia ser usada na subsidiária brasileira.
“Acreditamos que o caminho mais provável será uma oferta pública de aquisição, visto que esse tem sido o desejo da Iberdrola há algum tempo — embora sempre tenha enfrentado resistência da Previ”, escreveu o analista do Citi João Pimentel, em comentário a investidores.
Dinheiro Novo
Já os analistas do J.P.Morgan Arthur Pereira e Victor Burke classificaram a probabilidade de uma OPA voluntária como alta tendo em vista a visão do colega europeu Javier Garrido de que a Iberdrola estaria interessada em ampliar participação no ativo brasileiro e que a oferta seria “positiva e provável”.
Garrido, que acompanha a companhia espanhola, diz que a maneira correta de avaliar a transação é de forma conjugada com a venda de ativos no México, por US$ 4,2 bilhões, anunciada há cerca de um mês. “Em nossa opinião, a combinação dos dois acordos significa que a Iberdrola reinvestirá cerca de 50% dos recursos mexicanos na Neoenergia e que a combinação das duas transações, somada ao caixa restante do acordo mexicano, resultará em uma diluição de aproximadamente 0,5% (ou seja, insignificante) do lucro por ação (LPA) para a Iberdrola em 2026, enquanto a empresa fortalece sua posição em um país central e sai de um país onde o potencial de crescimento era questionável”, escreveu em relatório.
Embora considere a possibilidade da Iberdrola manter a empresa listada por alguns anos até que possa tentar oferecer um preço menor aos minoritários, ele avalia que comprar o free float pelo preço pago à Previ tornaria a combinação das transações no México e no Brasil praticamente neutra em termos de lucro.
Já os analistas do BTG Pactual Antonio Junqueira, Gisele Gushiken e Maria Schutz consideraram que a Iberdrola não precisa ter pressa para decidir estrategicamente sobre seu próximo movimento e avaliaram que, diante da elevada intensidade de capital do setor elétrico brasileiro e das oportunidades futuras, a Iberdrola poderia preferir manter a porta do mercado de capitais brasileiro aberta.
Em comunicado, a Iberdrola destacou que a Neoenergia tem perspectivas de forte crescimento “graças ao aumento esperado dos investimentos em distribuição e transmissão, setores que contam com marcos regulatórios incentivadores”.
A companhia está em fase final de seu atual ciclo de investimentos em projetos de transmissão, o que deve garantir maiores receitas a partir do próximo ano. Somente ao longo do segundo semestre deste ano devem entrar em operação ativos que proporcionarão R$ 700 milhões em Receita Anual Permitida (RAP).
Por outro lado, o grupo está em processo de renovação de contratos de concessão de distribuição, que estarão associados a níveis de qualidade de prestação de serviços mais elevado, exigindo, portanto, maiores investimentos.
Somente no ano passado, a Neoenergia investiu R$ 9,8 bilhões, dos quais R$ 5,5 bilhões no segmento de distribuição, no qual opera com cinco distribuidoras, e outros R$ 4,1 bilhões em transmissão. Nos primeiros seis meses deste ano, foram desembolsados mais R$ 5 bilhões, sendo R$ 3 bilhões em distribuição.
A Neoenergia abriu o capital (IPO, na sigla em inglês) na B3 em junho de 2019, em uma oferta que movimentou R$ 3,7 bilhões.