RIO – A retomada de um “calendário previsível” de rodadas de licitação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) foi uma das defesas que o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa, fez durante o 24º Fórum Empresarial no Rio de Janeiro. Costa avalia que, se não houver mudanças, há a possibilidade de que o Brasil se torne um importador de petróleo.
“Cerca de 15% do nosso PIB industrial está associado a essa indústria. Para o setor continuar sendo fundamental, é preciso manter a competitividade e estabilidade fiscal e regulatória. A atividade exploratória vem caindo e se não revertermos esse quadro, podemos nos tornar um importador de petróleo na próxima década”, enfatizou.
O executivo à frente da Shell Brasil ressaltou que o país se destaca por produzir petróleo com mais baixa de intensidade de carbono, uma vantagem frente aos pares globais, mas há uma janela de oportunidades para se avançar em todas as formas de energia. Em sua avaliação, o Programa Combustível do Futuro, sancionado em 2024, coloca o Brasil numa posição de destaque.
Aposta na Raízen
“A Raízen, se fosse um país, seria o quinto maior produtor de etanol do mundo. Vemos potencial de exportar o etanol de segunda geração e estamos na construção da terceira planta. Isso mostra o tamanho da nossa vantagem enquanto país. […] A inovação tecnológica vai ser decisiva para o País capturar as oportunidades”, reiterou.
O executivo reafirmou que a Shell Brasil “aposta bastante” na Raízen, mas reconheceu que a joint venture (parceria) entre Cosan e Shell passa por um momento difícil. Sobre as recentes notícias envolvendo um possível interesse da Petrobras em investir na Raízen – o que foi negado pela estatal -, disse que “é preciso perguntar para a Petrobras”.
“O Brasil é um país extremamente importante para Shell, temos uma presença contínua aqui de 112 anos […] Nossa joint venture é um dos maiores distribuidores de combustível do País. A produção de etanol foi uma aposta da Shell como uma promissora rota de descarbonização, não só para o Brasil, mas, eventualmente, para o mundo também. Então a gente aposta bastante na Raízen”, citou.
O presidente da Shell, que também é conselheiro da Raízen, reiterou que o negócio tem “todo o suporte do conselho” e destacou os esforços da joint venture para avançar na desalavancagem. No segundo trimestre de 2025, a Raízen registrou prejuízo líquido de R$ 1,844 bilhão, revertendo o lucro de R$ 1,066 bilhão do mesmo período da safra passada.
“Há um plano de transição e de transformação da companhia que passa por simplificação, redução de funcionários, infelizmente, e por algumas vendas de ativos. Esse plano vai demorar um tempo para ser executado, mas os acionistas da Raízen estão ativamente discutindo outras potenciais formas de desalavancagem da companhia”, pontuou.