A Boa Safra reafirmou, durante teleconferência de resultados do segundo trimestre, que continuará com foco no atendimento B2B e na diversificação da base de revendas e distribuidores, sem intenção de migrar para vendas diretas ao produtor. Segundo o diretor financeiro, Felipe Marques, o objetivo é reduzir a concentração de vendas em grandes clientes e ampliar a penetração da companhia em outros segmentos do mercado de sementes. “A nossa estratégia comercial não muda, então é B2B, esse é o nosso core como companhia. Não há nenhum tipo de alteração”, afirmou.
O executivo destacou que a redução da concentração foi uma resposta às transformações no setor, que registrou menor participação de grandes players na distribuição nos últimos anos. Com isso, a Boa Safra passou a acessar canais que antes não eram explorados, com atuação em mercados regionais e em culturas distintas da soja. Hoje, as demais culturas representam cerca de 12% das vendas, mas Marques avalia que há espaço para que, somadas, alcancem um mercado do tamanho do segmento de soja. “Vemos uma avenida de crescimento muito ampla nessas outras sementes, e isso nos permite penetrar mais nos clientes que já atendemos”, disse.
A companhia encerrou o segundo trimestre com produção de 280 mil big bags, atingindo o limite técnico de capacidade, e receita líquida de R$ 125,1 milhões, alta de 42,9% em relação ao mesmo período de 2024. O lucro líquido foi de R$ 24,8 milhões, avanço de 37%, e o Ebitda ajustado cresceu 45,4%, para R$ 10,5 milhões, com margem de 8,4%. A carteira de pedidos somava R$ 1,6 bilhão ao fim de junho, com participação crescente de revendas de pequeno e médio porte.
Qual é a estratégia da Boa Safra
Para sustentar o crescimento, a empresa pretende manter cautela na alocação de recursos. Não há guidance de expansão de capacidade para 2026, e a decisão sobre investimentos será tomada no fim do ano, após análise de oportunidades e do custo de capital. “Imobilizar capital nesse custo tem que ser algo muito no-brainer (óbvio) para a gente tomar essa decisão”, disse Marques, citando taxas acima de 15% ao ano. A prioridade será adotar modelos asset light, como o implementado na expansão para o Sul, com produção terceirizada e arrendamentos, e aproveitar o potencial de brownfields – unidades já existentes com capacidade para ampliação rápida e menor exigência de capital.
Segundo o diretor financeiro, a flexibilidade para crescer sem grandes aportes é estratégica diante do aumento da demanda por capital de giro no setor. “Não vamos ser menos diligentes porque temos mais liquidez. Temos responsabilidade com o nosso acionista e com os nossos credores também”, afirmou. Essa postura também se reflete na política de crédito e na gestão de risco, áreas que a empresa vem reforçando desde o IPO, com a adoção de seguro de crédito e a estruturação de operações de venda de recebíveis.
Para Marques, a preparação da companhia ao longo dos últimos anos foi decisiva para enfrentar um cenário de margens mais apertadas e maior necessidade de financiamento por parte dos clientes. “A gente se preparou para o crescimento da relevância da semente no custo de produção, que hoje já representa mais de 15% dos insumos da lavoura, contra 3% em 2008. Isso exige que estejamos prontos para suportar o produtor”, disse.