O colapso causado pelo tarifaço de Donald Trump nos mercados financeiros derrubou o petróleo e fez um estrago em Petrobras, cujas fortes quedas dos últimos cinco pregões consecutivos deixa, até aqui, uma perda de quase R$ 80 bilhões em valor de mercado para a empresa, mais do que o valor de uma Sabesp, a título de comparação. Com a derrocada, o market cap da companhia caiu hoje para R$ 429,35 bilhões, o menor nível desde agosto de 2023.
Para os analistas consultados pelo Broadcast, a principal razão por essa perda de valor de mercado é a incerteza em relação ao rumo que a economia mundial vai tomar com a escalada da guerra comercial iniciada por Trump. Isso, segundo Vitor Sousa, da Genial, isso derruba o preço do petróleo e, consequentemente, afeta a Petrobras.
“O grande gatilho foi a questão tarifaria e a retaliação da China”, diz Sousa. “Em um mundo mais protecionista há mais chances de uma recessão e com isso menos consumo. Foi muito abrupto. Com os termos atuais, se esse for o novo preço de equilíbrio para a commodity, pode ser que o mercado revise para baixo as estimativas de lucro da Petrobras.”
Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o barril do petróleo WTI para maio caiu hoje 1,85% (US$ 1,12), fechando a US$ 59,58. O do Brent para junho, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), cedeu 2,16% (US$ 1,39), alcançando US$ 62,82. Desde quarta-feira, anuncio do tarifaço, os contratos cederam 17% e 16%, respectivamente. A ação ON da Petrobras caiu 15% e a PN, 14%.
Para Rafael Passos, gestor da Ajax Asset Managent, a Petrobras enfrenta um cenário mais difícil quando o barril do petróleo fica próximo dos US$ 60. Isso porque, segundo ele, quando a commodity se aproxima destes níveis, o potencial de fluxo de caixa é menor do que uma companhia júnior.
“Vamos ficar totalmente à mercê lá de fora e a Petrobras deve ficar mais pressionada no curto prazo. Não tem uma visibilidade de como os países vão lidar com as tarifas americanas”, afirma Passos. “O mercado está em compasso de espera.”
Para Ruy Hungria, da Empíricus, o petróleo neste nível, ainda é um alento para a Petrobras, pois, a Casa trabalha com um cenário com a commodity sendo negociada a US$ 55. “Neste nível ainda vemos a companhia gerando caixa, não vemos como com desespero essa queda”, diz. “Mas, se continuar essa cotação de US$ 60 por muito tempo, vai haver uma pressão sobre resultados e sobre dividendos.”
Os analistas observam também os efeitos da baixa do petróleo sobre a política de preços da companhia, ainda que não vejam a pressão do governo para baratear os combustíveis como um motivo único para a queda recente das ações.